15 de out. de 2011

A questão indígena 3ºA

Seminário do texto:
TELLES, Norma. A imagem do índio no livro didático: equivocada, enganadora. In: LOPES DA SILVA,
Aracy; GRUPIONI, Luis Donizete (Org.). A temática Indígena na Escola: subsídios para professores de 1
e 2 graus. 2. ed. São Paulo: Global; Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1998.


Grupo: Camila, Henrique, Letícia, Mateus e Rogério 3º A

1) Introdução
   Os manuais didáticos de historia do Brasil são uma fonte importante no aprendizado de crianças e adolescentes e na formação da imagem do outro e estabelecem a posição hegemônica do pensamento de uma sociedade. Os textos de nossa história desempenham o papel complementar de formadores de um quadro simbólico explicativo da realidade social, da cultura na qual o aluno esta inserido, e servem, portanto, como fornecedores de referencial para o comportamento dos grupos que vivenciam esta realidade.
   Porém alguns desses manuais possuem uma vontade excessiva de adaptar o real a desígnios convencionas, até conservadores, prendendo-se a um modelo ideal de como a coisas deveriam ser e, assim esvaziando a história, os episódios narrados e os grupos étnicos envolvidos.

2) Diversidade Cultural e Etnocentrismo
   Nos livros, feitos e características culturais de países ocidentais – Europeus, principalmente – são privilegiados e até idealizados, ignorando fatos e vivências de outros povos essenciais à formação e compreensão de diversas sociedades, como a brasileira. Caberiam, então, a e estes livros, pelo menos considerarem as relações de domínio e conflito, e não simplesmente excluir parte da história.
   O etnocentrismo é a maneira pela qual, a partir de uma particularidade cultural, um grupo constrói uma imagem do universo que o favorece; é encontrado em todas as culturas humanas. Entretanto, não é apenas preferir o próprio grupo que constitui que torna o indivíduo etnocentrista, mas, sim, o fato de julgar sem críticas e de forma distorcida os demais grupos étnicos. É, também, um fenômeno sutil, que ocorre através de omissões e/ou seleções de acontecimentos importantes.
   O etnocentrismo se tornou amplo e evidente a partir do século XV, quando as nações européias iniciaram sua expansão ao redor do mundo. Ao se depararem com outros grupos que não possuíam os mesmos hábitos, cultura e imagem que eles, a primeira reação foi a pratica do etnocentrismo, que acabou gerando o etnocídio. Etnocídio consiste na destruição de modos de vida e pensamentos diferentes dos compartilhados por quem pratica esta destruição.
   Esse etnocentrismo distorcido privilegia apenas uma cultura - a européia – e gera uma imagem no mínimo enganadora da sociedade da América.

3) A falsa imagem dos “espaços vazios”
   Ao estudar-se a América do Sul, os antigos mapas costumam ser constituídos por grandes áreas vazias, onde o meridiano de Tordesilhas divide as terras em duas porções, sem distinguir conexões naturais. Isso provavelmente pois costuma-se  selecionar espaços de suposta importância histórica.  Uma vez que a área era considerada vazia, poderia ser dominada pelos europeus. Essa dominação hoje nos é apresentada através também de mapas, aqueles que descrevem as divisões das capitanias hereditárias. Neste caso, o povoamento aparenta um processo simples, gradativo e homogêneo. Porém, os habitantes originais nem ao menos são mencionados, uma vez que os territórios foram esvaziados e estes habitantes foram aniquilados.
   O que passa despercebido é o fato de que o continente americano, assim como os outros fora habitado por diversas sociedades. Estas muito antes dos europeus dividiam o espaço das mais diversas formas, como rotas comerciais, que colocavam em contatos uma vasta região entre a Colômbia e o Paraná, criando até mesmo centros importantes. Diversos grupos habitavam a região. Os caminhos limitavam fronteiras, em estradas que  e dirigiam ao Pacífico, assim, ligando extremos como montanha, litoral e selva. Ficavam ao redor de quatro eixos principais e era instrumento de poder político de um único império que integrava vários grupos. Ao centro do continente havia uma área de transição entre a planície amazônica e os pampas argentinos, onde viviam grupos de diferentes línguas e culturas.
   Os Guarani ocupavam parte do litoral e se estendiam até os rios Paraná, Uruguai e Paraguai, onde diversas aldeias indígenas distribuíam-se ao longo da margem.  Especificamente os Chiriguano faziam fronteira com o império Inca, esses, coexistiam com outros grupos de cultura semelhante.
   Entre os mais presentes estavam os Tupi-guarani, se estendendo do Paraguai até o litoral atlântico, onde eram recém-chegados, tendo desalojado outros grupos que ali anteriormente viviam. Nesse processo diversas alianças de rivalidade e amizade foram feitas. Graças a isso, conclui-se que no século XVI uma nova distribuição de espaço fora feita, onde tribos aliadas e inimigas determinariam províncias.

4) Razões dessa falsa imagem: razões da colonização
   O período anterior ao “descobrimento” se torna uma cena vazia, diferentemente do que foi na realidade. Os manuais fazem desaparecer, como num passe de mágica, as sociedades contemporâneas ás ibéricas da época das grandes navegações e, com isso, não são retratadas as relações que essas sociedades estabeleceriam entre si.
   A América do Sul, em seu burburinho de múltiplas culturas, é silenciada. Silencia-se que, a partir de um dado momento, o convívio entre portugueses e nativos se torna conflituoso por conta dos interesses dos primeiros, que precisam “limpar” o espaço e cedê-lo em forma de sesmarias. Silencia-se que os objetivos dos colonizadores só poderiam ser alcançados através da expropriação territorial, da escravização e da destribalização dos nativos, que passaram a ser vistos como ameaça aos brancos, nada além de escravos, assalariados, no último degrau da escala social.

5) A versão simplista dos manuais
   É muito comum notar as simplificações feitas nos manuais:  no litoral tiveram início a criação de gado e cultura de cana. No século XVI foram feitas as primeiras entradas ao interior. As bandeiras de caça ao índio penetraram o sertão. No século XVIII ocorreram grandes descobertas de ouro.
   De modo simples e homogêneo, parece uma ocupação progressiva.  Mas não foi isso que ocorreu. Essas simplificações não nos ajudam a compreender como realmente foi o processo de formação da sociedade nacional. O espaço vazio apresentado inicialmente aparece como uma tapeçaria de acomodações sucessivas, não como um campo de batalha de diferenças irreconciliáveis.
   Justamente no meio dessas simplificações foi quando as sociedades indígenas perderam sua autonomia, seus habitantes passaram a ser chamados somente de índios – uma palavra enganadora, pois apaga as diferenças, as particularidades desses povos.
   Através de eufemismos e termos utilizados, há uma seleção centrada nos locais e fatos considerados importantes. Encobre-se, assim, as guerras de conquista, a luta constante, o extermínio de populações e de suas culturas.
   Essa visão do cenário histórico é etnocêntrica em três aspectos: é uma valorização negativa, pois encobre, esvazia os espaços anteriores à chegada dos europeus; é uma valorização positiva, pois é narrada com foco no grupo colonizador; é minimizadora com relação aos feitos deste último, que poderiam parecer menos heróicos e até criticáveis.

6) O conceito de “descoberta: seus problemas
   Além da injustiça geográfica, a noção de tempo também se torna etnocêntrica quando se trata do inicio da história, que se decorre através da continuação europeia, ignorando milênios da história americana. A presença humana é comprovada há mais de vinte mil anos na área, assim como a agricultura, que segundo autores é um dos mais interessantes exemplos de exploração de recursos naturais.
   O que ocorre é um julgamento de valores sobre a historicidade desses povos com relação á cultura europeia. Ao dizer-se que diversas sociedades não têm história somente um lado é mostrado como objetivo, implicando em uma superioridade de um modo de vida sobre o outro. Se há ou não essa superioridade não é uma questão importante. O que importa é criar uma consciência da valorização, de forma imparcial sobre fatos e conceitos, o que não ocorre durante a história. Uma vez que a Europa é a única preocupação a ser relatada por autores, esta se torna a única face dos acontecimentos, apresentando a cultura local de forma unilateral e inexata, como por exemplo, ao relatar ataques dos índios.
   Apesar de a destruição ameríndia parecer inevitável através da história, isso se decorre graças a natureza narrativa e a seleção dos fatos. O conceito de “descoberta” faz com que existam duas concepções da história: a de que a história anterior a 1500 não existia e a incorporação das entidades geográficas aos europeus. Isso gera uma continuidade a história europeia, e assim, nega a existência de grande parte da humanidade.

7) Sociedades da América Pré-Colonial: Sociedades sem história?
   Quando se mencionam os habitantes da América, eles são retratados com total “inferioridade” em relação aos colonizadores, e isso resulta em uma impressão muito ruim de que são ultrapassados, decadentes, incapazes de fazer história ou de resistir ao agressor. O momento escolhido pelos autores para mencionar esses grupos é sempre desfavorável porque são colocados em capítulos separados, e porque sua cultura não é completamente descrita e em sua totalidade lógica, mas através de elementos isolados, muitas vezes retratados como “atrasados culturais”, sempre o desqualificando.

8) Conceitos e teorias do séc XIX, hoje ultrapassados, permancem vivos nos manuais
Critérios que eram usados para definir as sociedades não-européias não se sustentam mais diante dos estudos modernos. Mas os autores dos manuais continuam a utilizar modelos fora de costume e ideológicos que há muito é criticado. O modelo teórico usado por esses autores é o do evolucionismo cultural ou social, que ainda é carregado com cores racista, que ao invés de se aproximar da realidade dos grupos colonizados, é vista do ponto de vista e do contexto Europeu da época através de valorizações hierárquicas entre superior e inferior. Essa teoria é inaceitável porque compara as sociedades humanas através de elementos culturais retirados daquele período. Por exemplo, os manuais afirmam com insistência o índio ser incapaz de trabalhar, mas nunca define o conceito de trabalho em relação à determinada sociedade.
Outra idéia do evolucionismo cultural, é que os costumes tem um início e um fim, o fim seria supostamente os europeus, que eram superiores, e a “origem” seriam os índios, inferiores.

9) A legitimação unilateral
   Nos manuais didáticos há na maioria das vezes uma só perspectiva, na qual a agregação européia é vista como benéfica e civilizadora, destacando o papel da Europa em mostrar e ensinar aos indígenas como explorar seus recursos naturais para se tornar desenvolvida.
   Dessa forma, quando se mostra algum elemento da cultura indígena, cita-se como algo exótico em relação á norma dominante (norma européia) e sem especificar o contexto desses elementos culturais. Isso é feito de molde a horrorizar ou causar repulsa nas pessoas para tentar convencê-las que foi necessária a intervenção colonizadora (ex: o casamento entre primos e tios com sobrinhas, na sociedade Tupi).
   Vemos com isso que a legitimação não é formal, mas sim idealista. E o melhor exemplo desta são os casos do monoteísmo e do cristianismo, pois vemos a construção de igrejas como progresso para a sociedade indígena da época e toda a colonização  justificada em termos do cristianismo , que arranca os pagãos de suas superstições  tendendo a modificar , sob o pretexto religioso , os hábitos e costumes dos índios . Assume-se também a superioridade do monoteísmo sobre o politeísmo ou outra forma qualquer de pensamento, não sendo uma teoria lógica, mas sim de valores, na qual a vocação salvacionista dos europeus nunca é colocada em duvida e sempre é superior à politeísta dos índios.
   O etnocentrismo também esta presente nos manuais históricos, pois defendem que os índios não eram aptos ao trabalho então se teve que recorrer ao africano, mas não falam que o regime de trabalho era escravocrata e abusivo, e só traria riqueza ao colonizador, que é visto como certo, e os explorados como errados.  

10) Conclusão
   Nos livros didáticos são apresentadas diversas imagens de índios: são feitas afirmações inexatas de detalhes exóticos e incompreensíveis e projeções de valores estranhos. Essa forma de descrição desprivilegia o índio, tornando-o indesejável. Além dos livros, são apresentados, também, filmes que passam a mesma mensagem, tais como os de faroeste e Tarzan. Dessa forma, perde-se a possibilidade de entrar em contato e conhecer as diversas riquezas culturais e de diversidade humana.
   O discurso de muitos autores - a respeito dos indígenas - assemelha-se ao dos Missionários e expedicionários dos séculos XV e XVI, onde são tratados apenas temas de adversidade cultural, guerras, canibalismo, superstições e poligamia, sem nada a explicar.
   O índio passou a ser um conceito vago nos livros, tratado como ser inferior, apenas um guerreiro, não sabe trabalhar, construir uma moradia, é sem moral e supersticioso. Sua contribuição à humanidade resume-se apenas à questão lingüística, onde herdamos diversos vocábulos dos nativo-americanos. Essa imagem é enganadora e equivocada.

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