A Sociologia teoriza, diagnostica e explica a interação do homem com as instituições, as estruturas da sociedade, criando conceitos sobre as relações de poder nelas existentes. São essas as formulações que tornam esta ciência um instrumento poderoso: para alguns uma arma a serviço dos interesses dominantes; para outros, a expressão teórica dos movimentos revolucionários. A Sociologia chegou a ser acusada de ser um disfarce para o marxismo e teoria revolucionária disfarçada de ciência.
Essa visão não está somente atrelada ao potencial reflexivo e questionador das teorias disseminadas pela sociologia, embora sejam essas características que a colocaram de volta na grade curricular de escolas do ensino médio. Tais ocorrências proibitivas remontam sua origem, pois suas correntes surgiram como tentativa de compreensão de situações sociais inusitadas, nascidas com o capitalismo, tendo seus intelectuais profundamente envolvidos nesse contexto. O momento foi o ápice das questões levantadas por um proletariado infeliz, assim concebido ao longo da Revolução Industrial. A Sociologia surgiu, então, de fato, atrelada ao desenvolvimento do socialismo. Em um segundo momento, porém, envolveu-se, paradoxalmente, na contenção da expansão socialista. Acabou por ajudar na neutralização dos movimentos de libertação que ameaçavam a hegemonia das potências econômicas e políticas da época.
Isso se deu por meio do ideal de ciência, inspirado no positivismo, segundo o qual a sociologia seria como uma "consciência científica da sociedade-urbana e industrial", cujos modelos explicativos, de objetividade e de imparcialidade seriam capazes de fazer dela uma ciência do bem comum. Através dela poder-se-ia buscar a manipulação racional dos conflitos sociais, isto é, o tratamento científico dos problemas sociais com o objetivo de construir técnicas racionais para sua resolução. Nessa perspectiva, a sociologia herdou do movimento socialista apenas uma preocupação teórica de compreender e elaborar diagnóstico da sociedade, sem necessariamente ter o compromisso de transformá-la de forma radical.
A sociologia pode, assim, ser compreendida como um trabalho intelectual, uma "dimensão cultural" inerente à época moderna e suas crises, às revoluções capitalistas e a busca de democratização das relações sociais para o triunfo da economia de mercado. Ela como perspectiva de conhecimento da sociedade, permite situar os indivíduos de modo determinado na realidade social, assim como fornecer uma visão autêntica dessa mesma realidade social por meio do conhecimento de determinadas categorias ou conceitos histórico-sociais. Ela seria uma possibilidade de inculcar o bom senso nos cidadãos, assim como permitir a "atitude racional" dos indivíduos em relação aos processos sociais.
Referência/ Para saber mais:
O que é Sociologia, de Carlos Benedito Martins, Editora Brasiliense, 1994, Coleção Primeiros Passos;
O significado das ciências sociais no mundo moderno. Texto de Florestan Fernandes
A sociologia e o mundo moderno. Texto de Ianni:
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